Die Friseurin. A cabeleireira. (2)

Dia 31 de maio cortei meu cabelo pela segunda vez na Alemanha. Fui no Verena’s Frisierstube aqui perto de casa. Tive que agendar um horário com uma semana de antecedência, coisa que nunca fiz no Brasil. Sempre chego no cabeleireiro e espero uns 10 minutos até chegar minha vez de cortar. Mas aqui é normal esse procedimento. A primeira coisa que falei para a cabeleireira foi: “Desculpa, mas não falo alemão muito bem. Mas acho que consigo explicar”. Ela foi muito simpática, disse para não me preocupar e me serviu um café. Ela começou a cortar o cabelo e foi puxando papo. Cabeleireiro é tudo igual, só muda o endereço. “Desde quando você está na Alemanha?”, ela perguntou. “Desde fevereiro”, disse. “Então você pegou aquela semana de -20 ºC”, completou ela. “Sim, peguei. Para mim foi um choque. Eu venho do Brasil e naquela época a temperatura estava próxima dos 35 ºC, e quando cheguei aqui aquele frio”, respondi. Nessa hora, quando disse que era brasileiro, ela arregalou os olhos. “Mas você não é muito branquinho para ser brasileiro?”, retrucou ela. “Não, não, sou brasileiro. Essa história da cor é um grande estereótipo que o mundo inteiro tem”, defendi. “Mas isso é uma surpresa. Para mim você é tão normal, que nem a gente. Não que os outros não sejam normais, mas você é como se fosse um alemão”, falou ela num tom meio preconceituoso. “Mas entrego fácil que não sou alemão por causa do idioma. Quando começo a falar, é visível que sou estrangeiro”, falei. “Meu Deus, mas você fala muito bem alemão. Muito bem mesmo. Se você não tivesse dito que é do Brasil, eu teria achado que você é um alemão”, disse ela. “Meu maior problema é a gramática. Tantas regras e verbos e preposições…”, lamentei. “A gramática é um problema para os próprios alemães. Nem a gente consegue as vezes escrever ou falar certas coisas”, completou a cabeleireira. Daí ela perguntou se eu havia achado muita diferença entre os estilos de vida entre Brasil e Alemanha. “Olha, em primeiro lugar esse clima é um tanto complicado. Em segundo, a comida. Está difícil de me acostumar com esse sabor”, falei em tom de crítica. “Posso imaginar. Eu tenho um conhecido que já esteve no Brasil várias vezes. Na Bahia e no Rio de Janeiro. Ele ama o Brasil; disse que moraria lá facilmente. O clima é sempre tão agradável e a comida deliciosa. Mas sabe, nem só de clima e comida o homem vive. Ele falou que não há espaço para ele lá, não há muitas condições de emprego. Então, ele teve que ficar aqui e se contentar com o que a Alemanha oferece”, falou novamente num tom julgador. Ela então terminou de cortar o cabelo. Ficou muito bom por sinal. “Já decidi que só vou cortar meu cabelo aqui de agora em diante”, prometi a ela. Ela ficou contente. E fui embora embaixo de chuva e frio.
Moral da história: os alemães e a Europa inteira continuam com esse esterótipo do Brasil. Mas a culpa é nossa. O que a mídia divulga internacionalmente? O filme Cidade de Deus é a caracterização dos brasileiros na cabeça dos europeus. Mulatas semi-nuas nas praias do Rio de Janeiro estampam cartazes de turismo nas agências de viagens. Eles ficam chocados quando digo que sou brasileiro; não conseguem entender, por mais que eu já tenha explicado um milhão de vezes a questão da imigração de europeus para o Brasil durante o final do século 19 e início do século 20. Por outro lado, não me acho tão parecido com os alemães. Fisicamente talvez, mas além de não falar tão bem o alemão, o bom-humor, a educação, a polidez e o respeito já entregam na hora que venho de outro lugar do mundo.

7 comentários sobre “Die Friseurin. A cabeleireira. (2)

  1. mallucunha disse:

    Olá! Seu blog é muito bom e eu sempre acompanho pelo meu leitor de feeds. Eu já tive várias experiências com a extrema sinceridade alemã nesses meus 5 meses vivendo por aqui e posso dizer que não é muito agradável, pelo menos para mim, que a vida toda tive que ter jogo de cintura para as situações humilhantes de racismo que sofri no Brasil. Uma delas foi ter ouvido a minha sogra perguntar a mim e ao meu marido, como eram os banheiros no Brasil, e ele respondeu que eram como os daqui. Eu não tenho idéia do que está no imaginário dela por mais que eu tente. Eu gosto muito dela, é um doce de pessoa assim com os amigos do meu marido, mas ás vezes ele fazem cada pergunta… Mas eu sempre respondo bem, assim como você fez com a cabeleireira, porém deixo claro que algumas perguntas ofendem sim. Já os filmes como Cidade de Deus, Tropa de elite, acredito que são filmes/críticas que tem um contexto mais reflexivo e claro são bons entretenimentos, mas daí achar que eles contribuem ainda mais para o esteriótipo que os estrangeiros fazem da gente, é um pouco demais. Mas não quero parecer rude com meu comentário, foi só um ponto de vista. Um abraço!

    1. Leopoldo disse:

      Olá. Obrigado pelo seu comentário e também por acompanhar o blog. Seu comentário não foi rude de forma alguma. Aqui é um espaço justamente para discutirmos sobre o que se passa na Alemanha. Desde que cheguei aqui tenho escutado barbaridades a respeito do Brasil. A maioria delas é por total falta de conhecimento, já que os alemães de um modo em geral não tem muito interesse pela cultura dos outros países. Todo mundo acha que a situação no Brasil é caótica, que o país é extremamente pobre, que as pessoas não tem acesso a nada, etc. Não que isso não seja verdade em partes, mas não é dessa forma tão exagerada como eles vêm. Eles se espantam quando digo que somos a 6ª maior economia do mundo, mais ricos que a Grã-Bretanha. Alguns achavam que o uso de drogas era permitido, que a maioria da população vive em favelas e que árvores frutíferas estão espalhadas pelas cidades e que todos podem colher as frutas direto do pé, como se fosse uma selva. Pura falta de conhecimento.
      Outra questão é em relação ao estereótipo do povo brasileiro. Respeito a sua opinião, mas não concordo plenamente. “Nós somos aquilo o que vestimos”, diz o ditado. É essa imagem que o país vende para o exterior. Dei um exemplo sobre filmes, que já tiveram grande repercussão no exterior, mas poderíamos citar jornais também. Filmes que abordam apenas a violência, o tráfico de drogas, as favelas, crime. Vários amigos europeus já mencionaram filmes como Cidade de Deus, Central do Brasil, 5X Favela, e me perguntaram se realmente era assim. Convidei alguns para visitar o Brasil no próximo ano, mas alguns disseram que era melhor não, pois é muito perigoso, balas perdidas, traficantes, etc. Concordo que é muito importante esse tipo de mídia, precisamos destacar a realidade e botar o dedo na ferida, para refletir, discutir e tentar buscar soluções para solucionar esse problema. Mas o Brasil não é apenas isso, crime e drogas. Quantas belezas, quanta história, olha o nosso povo que alegre, essa mistura de raças tão bonita. É isso que precisamos mostrar para o exterior também. É isso o que eu tento passar para eles aqui. E eles sempre ficam chocados quando mostro o outro lado e acabam se surpreendo ao descobrirem o que eles não sabiam.
      Até mais,
      Leo.

  2. Karina disse:

    Leo, uma certa vez um colega meu aqui nos EUA me perguntou: “Sua cor é normal no Brasil ou você é uma exceção? É típico mais na tua cidade ou tem branco no Brasil inteiro?”. Eu respondi conforme você conhece, e ele depois disse: “É que a minha referência é um outro brasileiro ‘preto’ que conheci outra vez, e também os jogadores de futebol e as dançarinas no carnaval”.
    Outra vez, num simpósio que tive semana passada, um homem muito bem vestido e aparentemente ‘inteligente’ se sentou na mesma mesa que eu, e após descobrir que sou do Brasil perguntou: “Mas lá tem cidades grandes também, onde você faz pesquisa, ou é tudo no meio das florestas?”.
    Sem contar o espanto que outro colega ficou quando falei que o Brasil é quase do mesmo tamanho que os EUA, se não fosse o Alaska. “É mesmo? Eu achei que tudo abaixo da América Latina era bem menor…”, ele finalizou!

    1. Leopoldo disse:

      Oi Karina. Veja só, países tão desenvolvidos por um lado, mas outro tão atrasados quando o assunto é cultura geral. Eu não consigo entender como eles não sabem pelo menos o básico. As dúvidas deles chegam a ser engraçadas, tamanho o absurdo de algumas perguntas. Eu fico um pouco indignado com isso e sempre tento esclarecer tudo. Os alemães, bem, você sabe, eles não estão nem aí. Mas pelo menos estou conseguindo mudar a visão que meus amigos de outros lugares da Europa tinham. Esse sentimento de patriotismo fui só descobrir aqui no exterior. Quando alguém começa a falar mal do Brasil ou a criticar algo, já “subo nos cascos”, como diz o manezinho da Ilha. rsrs Viva o Brasil!

  3. jully reis disse:

    Leo Parabens amei seu blog…nao vivo em alemanha mas axo interessante ler a realidade dos brasileiros que atualmente vivem fora do brasil.mas creio que deveria abordar um poco mais o tema sobre emprego e como eh a vida na alemanha.atualmente vivo em españa.

    1. Leopoldo disse:

      Oi Jully, obrigado pelo seu comentário. Atualmente não moro mais na Alemanha; já estou de volta ao Brasil. Mas ainda pretendo continuar escrevendo sobre as minhas impressões de lá. Vou procurar escrever posts abordando suas sugestões. Um abraço e até mais!

  4. Alessandra. disse:

    Ei Gente !!
    sou Alessandra e moro em Kaiserslautern , Alemanha a 4 anos. Já morei no norte da Alemanha em 2004 por dois anos e meio e por concequencias do destino, estou de volta. Já morei na Espanha,Estados Unidos e Alemanha e posso dizer que: quem nunca foi ao Brasil nao vai saber nunca como nós somos e como nós vivemos. O mundo esta cheio de pessoas ignorantes,e nao falo isso pra ofender nao, ignorantes no sentido de ignorar as coisas mesmo. o brasileiro é um povo muito humilde ,simples e supervaloriza tudo o que vem de fora,ate mesmo dos paises pobres vizinhos ao Brasil. Existem na Alemanha mais analfabeta que no Brasil, e nao sou eu que digo isso.. ( http://www.dw.de/analfabetismo-continua-sendo-problema-na-alemanha/a-15432205-1 ) assim que, já nao me asusto quando alguem me faz alguma perguntinha ” boba ” a respeito do meu pais,,. muitos povos nao tem ideia de como somos e nem de onde vimos ! por isso faco questao de aprender cada dia mais,pra nao da vacilo com perguntinhas ignirantes pela vida! um beijão.

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